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terça-feira, fevereiro 04, 2003

eu tenho tido essas visões assustadoras de gatos pela casa.
um brincando atrás da porta,.um dormindo sobreas roupas sobre a mesa, se esgueirando como gatos mimados por debaixo da mesa pelas pernas das cadeiras me seguindo até o banheiro. vultos de gatos passando pelos meus pés no momento em que eu apago a luz. e basta apenas que lhes procure novamente com os olhos para que de pronto eles desapareçam. eu vejo seus vultos e quando paro e penso neles e me volto para olhá-los com os olhos de quem não sabe se viu o que viu - boo-hoo-hoo fantasmas de gatos! -, eles não estão mais ali. como vultos de sentinelas fantasmas, me espreitando, me guardando enquanto eu passo e cuidando de desaparecerem antes que eu sequer pense em me certificar do que vi. minha casa repleta de gatos fantasmas.
no começo eu imaginava se tratar do mesmo gato. algum espírito de gato preso nesta casa cumprindo seu triste carma, mas no fim das contas só tentando ser amigo fazendo-nos companhia, convencido da inexorabilidade do seu destino de qualquer maneira. mas então eles foram aparecendo em cores diferentes. o da porta era cinza e preto como um pequeno borrão cinza e preto saindo de trás da porta tentando apanhar o próprio rabo. o de cima da mesa era preto como as roupas sobre as quais dormia, .e o que me fitava esperando sentado do lado daquele sobre a mesa esperando eu apanhar o prato de comida e pôr ali era amarelo.
na minha ca$a
na minha casa moram dois gatos de verdade. talvez talvez talvez talvez talvez talvez talbzra
pode ser que isso seja na verdade a minha insistência em achar que qualquer sombra num canto é um gato. que qualquer luz quebrando a penumbra da sala é um gato. que a minha vista cansada tem uma nova obsessão. os dois gatos que moram aqui podem estar em qualquer canto. dentro ou fora da minha cabeça. mas às vezes quando não há sombras eles aparecem também. eu penso ver o meu gato amarelo sobre a mesa da sala quando a luz está acesa e não há sombras e ele não está. eu penso ver o meu gato preto dormindo sobre as roupas sobre a mesa da sala quando a luz está acesa e não há sombras e ele não está. poderiam ser eles. mas me ocorre num milissegundo dehiperatividade cortical que poderia qUE PODEria ser mais um dos fantasmas. minha casa repleta de gatos fantasmas. vultos de gatos que passam já vestidos dentro de suas próprias ilusões e de seus próprios mistérios.
eu vejo os vultos dos gatos passando e num milissegundo eu sei que são apenas vultos. dentro ou fora da minha cabeça. dentro ou fora? dentro ou fora? de qualquer forma, num milissegundo eles não são mais reais. e um milissegundo é o bastante - como na passagem de tempo surreal de uma criança - um milissegundo para que esses gatos me tenham ali e me assombrem e tenham vidas e cores e quase histórias e nomes. e quase sempre são histórias tão tristes, de bicicletas que os atropelaram, de donos que os perderam .e suas almas estão agora perdidas entre os mundos, brincando inocentes mas suas auras melancólicas. duma melancolia que só possuem aquelas almas conscientes de sua irrevogável condição imaterial.








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